A cultura do pimentão tem grande relevância na horticultura brasileira, destacando-se tanto pelo seu valor econômico quanto pelo seu papel na diversificação das opções de plantio para produtores de pequeno e grande porte. Introduzido no Brasil por meio da colonização europeia, o pimentão rapidamente encontrou solo fértil e condições climáticas propícias, especialmente em regiões do Sudeste.

Além de seu uso gastronômico diversificado, o pimentão é rico em vitaminas, possuindo também compostos antioxidantes que atraem o consumidor moderno, cada vez mais atento à saúde. Esse crescente interesse vem impulsionando produtores a adotarem técnicas cada vez mais sofisticadas e sustentáveis para melhorar a produtividade e a qualidade da colheita. 

No entanto, para obter sucesso no cultivo do pimentão, é necessário considerar diversos fatores técnicos e ambientais. Sua produção exige conhecimento detalhado sobre suas características agronômicas, ciclo de cultivo e manejo adequado. 

Neste artigo, serão apresentados os principais aspectos relacionados à produção do pimentão, explorando desde a preparação do solo até o processo de colheita e comercialização.

Características agronômicas e botânicas do pimentão

O pimentão (Capsicum annuum L.) é uma planta pertencente à família Solanaceae, que inclui outras espécies economicamente importantes, como o tomate e a batata. De porte herbáceo e ciclo anual, sua estrutura apresenta um caule ereto e ramificado, que pode alcançar de 50 a 100 cm de altura, dependendo da variedade e do manejo aplicado.

As folhas do pimentão são ovais e apresentam uma textura lisa, com disposição alternada ao longo do caule. As flores, de coloração branca ou levemente esverdeada, são hermafroditas, ou seja, possuem os órgãos femininos e masculinos na mesma estrutura. Em geral, as flores surgem isoladamente nas axilas foliares, sendo polinizadas principalmente pelo vento e por insetos.

O fruto do pimentão é uma baga carnosa que varia amplamente em tamanho, forma e cor, aspectos definidos tanto por fatores genéticos quanto ambientais. A coloração dos frutos pode ir do verde, quando imaturos, ao vermelho, amarelo, laranja e até roxo, à medida que amadurecem, refletindo a presença de pigmentos como clorofila e carotenoides

Essa diversidade de cores está associada a diferentes concentrações de nutrientes e compostos antioxidantes, que tornam o pimentão um alimento altamente valorizado.

O sistema radicular do pimentão é bem desenvolvido e profundo, adaptando-se a uma ampla gama de tipos de solo, desde que sejam bem drenados, ricos em matéria orgânica e com pH levemente ácido a neutro. Essa característica contribui para a sua resistência em condições variáveis de umidade, desde que manejadas de forma adequada, favorecendo o crescimento e a produtividade.

Ciclo de cultivo do pimentão

O ciclo de cultivo do pimentão pode variar significativamente conforme a variedade cultivada e as condições climáticas da região, mas, em geral, tem uma duração média de 100 a 130 dias, desde a semeadura até a colheita. 

O cultivo começa com a germinação das sementes, que ocorre entre 7 a 14 dias após a semeadura, dependendo da temperatura do solo. Condições desfavoráveis podem atrasar a germinação ou prejudicar a emergência das plântulas.

Após a germinação, a planta entra na fase vegetativa, que dura aproximadamente 30 a 50 dias. Durante esse período, o pimentão desenvolve suas folhas, caules e raízes, estabelecendo uma base forte para o crescimento futuro. Essa fase exige monitoramento cuidadoso da irrigação e adubação, permitindo que a planta receba os nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável.

Em seguida, inicia-se a fase reprodutiva, caracterizada pelo aparecimento de flores e pelo início da frutificação. Essa etapa é especialmente sensível a variações ambientais, como altas temperaturas ou déficit hídrico, que podem impactar a taxa de frutificação e a qualidade dos frutos. 

A maturação dos frutos varia conforme a variedade e as práticas de manejo adotadas, mas ocorre geralmente entre 60 a 80 dias após o transplante das plântulas para o campo. O momento ideal para a colheita pode ser determinado pela coloração e pelo tamanho dos frutos, que devem atender às exigências do mercado, seja para pimentões verdes (imaturos) ou coloridos (maduros).

Durante todo o ciclo de desenvolvimento, a atenção à presença de pragas, doenças e plantas daninhas é fundamental para assegurar um bom pegamento das flores e o desenvolvimento adequado dos frutos.

Pragas e doenças do pimentão

O cultivo de pimentão enfrenta desafios significativos devido à presença de diversas pragas e doenças que podem comprometer a produtividade e a qualidade dos frutos. Conhecer as principais espécies que afetam essa cultura é fundamental para o manejo adequado e a redução de perdas.

Principais pragas do pimentão

  • Pulgões (Myzus persicae, Aphis gossypii e Macrosiphum euphorbiae): estão entre as pragas mais comuns e prejudiciais para o pimentão. Esses insetos sugam a seiva das folhas, causando enrolamento, amarelecimento e enfraquecimento geral da planta. Além dos danos diretos, são possíveis vetores de viroses que afetam o desenvolvimento saudável do pimentão.
  • Tripes (Frankliniella occidentalis, Thrips tabaci, F. occidentalis e T. palmi): pequenos insetos alados que se alimentam do conteúdo das células de flores e frutos, os tripes deixam cicatrizes e podem prejudicar a formação dos pimentões. Também são conhecidos por transmitir viroses como o vírus da doença vira-cabeça (Tomato spotted wilt virus – TSWV), o que torna seu impacto ainda mais preocupante.
  • Ácaros (Tetranychus urticae, Polyphagotarsonemus latus,Tetranychus ludeni e T. evansi): embora sejam diversas espécies, os danos desses artrópodes são muito semelhantes. Costumam se alojar nas folhas e se alimentar do conteúdo celular, deixando a área fotossintética comprometida, descolorida e encarquilhada.
  • Mosca-branca (Bemisia tabaci): além de sugar a seiva e injetar toxinas enfraquecendo as plantas, os adultos e ninfas da mosca-branca são potenciais vetores de viroses que reduzem a capacidade fotossintética e a produtividade do pimentão. Essa praga se multiplica rapidamente, podendo tornar-se um problema sério em áreas de cultivo.

Principais doenças do pimentão

  • Murcha de fitóftora (Phytophthora capsici): essa doença fúngica afeta todas as partes da planta, incluindo caule, folhas e frutos, provocando manchas escuras e apodrecimento. O rápido crescimento do fungo é evidenciado por um sintoma com aspecto de algodão. O ataque severo pode levar à murcha da planta e à perda significativa da produção.
  • Murcha-bacteriana (Ralstonia solanacearum): considerada uma das doenças mais destrutivas para o pimentão, a murcha bacteriana reduz o desenvolvimento das plantas adultas, além do murchamento e amarelecimento das mesmas. É um desafio persistente em regiões com solo e clima favoráveis à bactéria.
  • Viroses (Tomato spotted wilt virus – TSWV e Groundnut ringspot virus – GRSV): as viroses são frequentemente transmitidas por vetores como pulgões e tripes. Elas resultam em deformações foliares, manchas cloróticas e crescimento atrofiado, prejudicando tanto a estética quanto a produtividade da planta.
  • Mancha-bacteriana (Xanthomonas spp.): Caracteriza-se pelo surgimento de lesões escuras e com aspecto melado nas folhas, normalmente nas mais velhas, as mais atacadas. Nos frutos se assemelham a verrugas comprometendo a qualidade e a aparência do pimentão. 

Plantas daninhas no cultivo de pimentão

As plantas daninhas representam um desafio constante no cultivo de pimentão, influenciando diretamente a produtividade e a saúde das plantas. Elas competem com o pimentão por recursos essenciais, como luz, água e nutrientes, o que pode resultar em um crescimento reduzido e menor rendimento da cultura.

Entre as espécies mais comuns que afetam o cultivo de pimentão estão a tiririca (Cyperus rotundus), uma das plantas daninhas mais persistentes e difíceis de erradicar, e o picão-preto (Bidens pilosa), que se adapta facilmente a diversos tipos de solo e se prolifera rapidamente. 

Outras espécies, como a braquiária (Urochloa spp.) e o caruru (Amaranthus spp.), também costumam ser frequentes e causam impactos significativos, pois competem de forma agressiva com o pimentão e podem dificultar o manejo da lavoura.

A presença dessas plantas daninhas não só afeta o acesso do pimentão aos recursos necessários para seu desenvolvimento, mas também pode abrigar pragas e patógenos que, eventualmente, atacam a cultura principal. Isso cria um ambiente propício para surtos de pragas e o surgimento de doenças, aumentando os desafios para os produtores e impactando a qualidade e a quantidade da colheita.

A interferência das plantas daninhas pode variar conforme a densidade populacional e o estádio de crescimento do pimentão. Períodos críticos, como a fase inicial de desenvolvimento da cultura, são particularmente suscetíveis à competição, o que pode influenciar diretamente o estabelecimento e o crescimento das plantas.

Devido à relevância desses desafios, o controle de pragas, doenças e plantas daninhas no pimentão exige uma ferramenta que inclua diferentes frentes de ação.

Manejo integrado no cultivo de pimentão

O manejo integrado no cultivo de pimentão é essencial para a sustentabilidade e a eficiência produtiva. Essa estratégia reúne diferentes práticas que visam manter pragas, doenças e plantas daninhas em níveis que não causem danos econômicos significativos. No centro dessa ideia está o princípio de integração, que alia métodos culturais, biológicos, mecânicos e químicos, priorizando o equilíbrio ambiental e a saúde das plantas.

O monitoramento constante é uma parte vital e a base do manejo integrado, pois permite identificar rapidamente sinais de pragas e doenças. A observação periódica das plantas e o uso de ferramentas de monitoramento, como armadilhas e inspeções visuais, ajudam a determinar o nível de infestação e a necessidade de intervenções específicas. 

Com base nas informações coletadas, decisões são tomadas para aplicar técnicas que reduzam os riscos, evitando intervenções desnecessárias e minimizando os impactos ambientais.

Outro pilar do manejo integrado é o uso de práticas culturais, como a rotação de culturas e a escolha de variedades mais adaptadas. Essas ações contribuem para reduzir a incidência de pragas e patógenos, ao mesmo tempo em que mantêm o solo saudável e produtivo. 

Ao utilizar uma combinação de métodos que inclui controle biológico e intervenções mais seletivas, é possível otimizar a aplicação dos produtos químicos e preservar a biodiversidade local. Dessa forma, o produtor mantém a viabilidade econômica de sua produção, contribuindo também para um modelo de agricultura mais consciente e produtivo.

Mas além do manejo integrado, outros importantes cuidados também devem ser tomados pelo produtor, como a irrigação, a adubação e a fase final de colheita e comercialização.

Adubação e manejo nutricional

A adubação correta é fundamental para o desenvolvimento saudável do pimentão. Antes do plantio, é recomendável fazer uma análise do solo para identificar suas necessidades. O pimentão é uma planta que exige altos níveis de nitrogênio, potássio e fósforo.

Durante a fase de crescimento, o fornecimento de macro e micronutrientes deve ser ajustado, permitindo o equilíbrio entre crescimento vegetativo e produtivo. A adubação orgânica, por meio de compostagem e esterco curtido, tem se mostrado eficaz, contribuindo também para a estruturação do solo e para a retenção de água.

Irrigação e técnicas de manejo hídrico

O pimentão é bastante sensível à disponibilidade de água. O manejo da irrigação deve ser realizado de forma criteriosa, preferencialmente por gotejamento, um sistema de irrigação eficiente no consumo do recurso natural e que ajuda a evitar o estresse hídrico e a proliferação de doenças. Essa técnica permite a aplicação precisa de água diretamente na zona radicular, um importante ponto na otimização dos recursos.

É importante monitorar a umidade do solo regularmente e ajustar o volume de água conforme as condições climáticas e as fases de desenvolvimento da planta. Durante a floração e frutificação, a demanda hídrica aumenta, e uma irrigação deficitária pode resultar em frutos deformados e baixa produtividade.

Fase de colheita e comercialização

A colheita do pimentão deve ser feita quando os frutos atingem o tamanho desejado e uma coloração adequada para o mercado (verde ou em estádio de maturação avançada). É fundamental colher manualmente, utilizando tesouras de poda para evitar danos aos frutos e à planta.

Após a colheita, os pimentões devem ser armazenados em locais frescos e bem ventilados para preservar sua qualidade. A comercialização pode ocorrer diretamente em feiras, supermercados ou por meio de contratos com distribuidores. A embalagem deve ser adequada para evitar machucados e perda de qualidade durante o transporte.

Perspectivas para o cultivo de pimentão no Brasil

O cultivo de pimentão, quando bem manejado, é uma atividade lucrativa e de alta relevância no mercado hortifrutigranjeiro. A adoção de práticas modernas e sustentáveis, como o manejo integrado de pragas e a irrigação eficiente, contribui para a longevidade da cultura e a redução de custos de produção. Com a crescente demanda por produtos saudáveis e de qualidade, os produtores que investem em tecnologias de produção têm um diferencial competitivo.

Com o conhecimento das características agronômicas, técnicas de manejo e a aplicação de boas práticas agrícolas, o cultivo do pimentão pode não só atender ao mercado interno, mas também expandir para novas oportunidades de exportação, aumentando a competitividade do agronegócio brasileiro.